Falhas em testagem de Covid-19 contribuíram para mortes no Brasil, diz Fiocruz
Da redação
O Brasil fez, em média, 11,3 testes do tipo RT-PCR para detectar a Covid-19 a cada 100 mil habitantes. De acordo com pesquisadores da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), essa baixa cobertura contribuiu para o avanço da doença, o aumento de casos graves e de óbitos.
Um estudo produzido pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da instituição revelou três fatores que contribuíram para que o país falhasse na estratégia de testagem em massa para Covid-19 ao longo da pandemia: falta de planejamento para compra de testes em massa, opção por testes rápidos no lugar dos do tipo RT-PCR e ausência de indicadores confiáveis sobre os dados.
De acordo com os pesquisadores, a falta de centralização na compra e distribuição dos testes “fragmentou a informação”sobre o avanço da pandemia. A Fiocruz sublinha que a estratégia brasileira, de acompanhar a evolução da doença no país por aumento no número de casos e de óbitos, é insuficiente para combater a covid-19 por ser uma análise limitada e com muito atraso em relação ao momento da infecção.
O Amapá, Distrito Federal e Maranhão são os estados brasileiros que fizeram menos testes do tipo PCR para detectar a covid-19, de acordo com levantamento feito pela Fiocruz a pedido da CNN.
Esses locais tiveram taxas de, respectivamente, 0,3; 0,5 e 1,7 testes PCR feitos a cada 100 mil habitantes no mês de outubro, o último com números disponíveis.
O estado que mais fez testes PCR no país – São Paulo – teve uma baixa cobertura de testes ao se analisar a taxa por 100 mil habitantes: 9,5 testes a cada 100 mil, taxa inferior a outros 14 estados do país.
No Rio de Janeiro, que segundo dados da Fiocruz tem a maior taxa de mortalidade por coronavírus do país, foram feitos apenas 7 testes PCR a cada 100 mil habitantes no mês de outubro.
O Paraná foi o estado com maior taxa: 36,5 a cada 100 mil habitantes.
Não há uma taxa a ser perseguida pelos estados, mas a conclusão da Fiocruz é que a cobertura do Brasil foi baixíssima.
“Testes do tipo PCR são mais confiáveis e podem prever para onde está indo a pandemia, facilitando a tomada de decisão sobre medidas mais restritivas de circulação. Só que além de testarmos pouco, não monitoramos e não conseguimos acesso aos dados. É uma bagunça completa”, argumenta Christovam Barcellos, da Fiocruz.
Com a vacinação contra Covid-19 iniciada em mais de 40 países, mas ainda sem data no Brasil, a Fiocruz argumenta que só o aumento da testagem com rastreio pode conter o avanço da doença no Brasil. “Um planejamento de aplicação de testes adequado permite identificar os indivíduos infectados e, somado à estratégia de rastreio de contatos, foi o que possibilitou a contenção da doença nos países que foram exitosos no enfrentamento da epidemia”, conclui o documento da Fiocruz.